Oi! Eu estou no Instituto de Artes desde 2012, passei pela greve de 2013 e 2016 e agora estamos em um novo processo de mobilização (enquanto o DCE finge que nada está acontecendo após vazar da assembleia geral por não quererem votar uma pauta), que já resultou em duas paralisações no IA, uma na última quinta-feira, quando outros institutos também paralisaram, e outra na segunda (também conhecida como hoje).
Obrigada, Geovana, por mandar as fotos dos cartazes!
Na última quinta tivemos uma roda de conversa sobre a precarização do instituto e é bizarro perceber que os problemas do Instituto de Artes de 2013 pra cá não apenas não se resolveram, mas PIORARAM.
Nosso teatro continua parado. Em junho de 2016 (eu lembro porque foi no meu aniversário!) o reitor tinha “dado” alguns milhões para terminar a obra, mas essa verba foi contingenciada pelo reitor atual. Pra quem não sabe, o teatro do Instituto de Artes é uma obra parada desde 2013 porque esqueceram de construir os pilares de sustentação. Parece piada, né? Ele pode desabar a qualquer momento. Na verdade já ouvi falar que tinha um aluno da pós da engenharia civil que tava estudando por que o teatro ainda não desabou. Atualmente a obra só serve pra acumular água e ser um potencial foco de dengue/zika/chikungunya.
Edit: O Leo me informou que aparentemente o teatro não corre mais o risco de cair porque foi feita uma reforma e botaram umas vigas de sustentação, mas eu é que não me arrisco a chegar perto porque vai que ele cai na minha cabeça.
Bom, o teatro é onde teriam as salas de aula para os cursos de dança e artes cênicas. Como não existe o teatro, eles provisoriamente têm aulas no barracão. (provisoriamente desde a criação dos cursos) Só que o barracão está basicamente caindo aos pedaços. Tem algumas salas que as pessoas não podem usar alguns cantos porque o chão tá afundando (?!). Além disso tá com problemas na fiação e ele pode pegar fogo. Docentes do barracão estão pensando até em parar completamente as aulas até ficar pronto pelo menos um prédio anexo ao teatro, que é onde ficariam as salas de aula. Na verdade o prédio principal do IA também não é muito seguro e parece que pode pegar fogo a qualquer momento, ou pelo menos foi essa a justificativa que a atual diretora deu para proibir o curso de extensão gratuito para crianças que a licenciatura em Música fazia há quase 10 anos.
Docentes estão se aposentando, pra se aposentar, e não acontecem novas contratações. Um professor das cênicas faleceu e os professores estão se revezando para cobrir as matérias que ele dava, porque não tem concurso. O mesmo acontece com funcionários. Um exemplo crítico é a biblioteca do nosso vizinho, o Instituto de Estudos da Linguagem, que corre o risco de ficar fechada por falta de funcionários. É o instituto que mais deve usar a biblioteca, gente, isso é surreal!
Alguns cursos da Música já acabaram por falta de professor. É o caso do curso de cravo, que está com seus últimos alunos e depois que eles se formarem será extinto. O mesmo aconteceu com o curso de oboé. O curso de violão ficou anos sem professor, esperando uma contratação. (os alunos não tinham aula de instrumento, que deveria ser, tipo, o principal) São instrumentos que não tinham uma procura muito grande, mas ainda assim, desse jeito qual vai ser o próximo?
Outra coisa que todos sabem é que nas universidades públicas docentes precisam dar aula e fazer pesquisa. Na Música, além disso, têm que ser instrumentistas. Imagino que nos outros cursos pela lógica docentes também têm que ser artistas. Aí com a falta de contratações, acabam saindo os concursos multitarefa, estipulando que além de dar aula de instrumento tem que dar aula de outras disciplinas, por exemplo, história da música, percepção musical. O que acontece é que então são aprovadas pessoas que dão boas aulas de instrumento mas não de matérias teóricas ou vice-versa. (ou vai ver de nenhum dos dois, rs)
Estudantes de Artes Visuais precisam arcar com os custos de todos os materiais. São muitos materiais, gente, e não é barato. Na dança e cênicas, também precisam bancar os custos das apresentações. A galera tenta se virar sem ajuda, fazendo bazar, vendendo rifa. A gente tenta lutar contra a elitização das artes, mas é realmente difícil. Outro ponto é que não existem cursos noturnos no IA, então é praticamente impossível trabalhar pra se manter e estudar, principalmente em cursos que têm uma rotina exaustiva de horas de aula e mais horas de ensaio. Eu passei minha graduação toda fazendo o maior malabarismo pra encaixar minhas aulas e conseguir dar aula particular. Aí você acaba atrasando a graduação pra conseguir dar conta de fazer um curso integral e trabalhar nas horas vagas. Falando nisso, recentemente cortaram as bolsas auxílio de quem atrasou a integralização, a expectativa de se formar dentro do prazo. Gente, quem tá atrasado por n fatores é provavelmente quem mais precisa de auxílio. Isso chega a ser desumano. Empatia, cadê?
Na greve de 2016 foi o Instituto de Artes que se revoltou com a precarização e como a situação ficaria ainda pior com o corte de 40 milhões (bom, ficou…), foi a gente que começou a maior greve da história da Unicamp. Naquela época todos os outros institutos falavam da gente. Eu vi textão no facebook falando que as exatas iam ajudar o IA. Eu fui numa assembleia da medicina e vi estudantes de medicina falando sobre como o IA é o instituto mais precarizado e isso não estava certo. Mas infelizmente depois que a greve acabou, cada um voltou pra sua rotina, parece que todo mundo esqueceu o IA e não vi essa tal ajuda que todo mundo dizia que ia dar…
E olha que neste post eu nem falei sobre os ataques constantes que a arte está sofrendo no país. Isso é assunto pra outro post.
É isso, gente. Vamos tentar nos mobilizar, vamos tentar fazer as coisas acontecerem dessa vez, porque desistir não dá. Colem nas assembleias, colem nas atividades. A arte é política. Bjo da aluna da pós que nem é mais representada pelo CAIA mas ainda tá lá. :*
Ah, eu coloquei uns links ao longo do post, mas vale a pena elencar aqui no final os posts anteriores sobre a situação do IA, greve e outros posts interessantes. Recordar é viver. Vamos relembrar nossas lutas.
- A paralisação do Instituto de Artes e a ocupação do gramado
- Sobre as manifestações na Unicamp
- Greve do Instituto de Artes
- Explicando um pouco sobre o corte de 40 milhões na Unicamp
- A greve do IA e atos dos estudantes e trabalhadores da Unicamp
- Como o Instituto de Artes é afetado pelo corte de 40 milhões
- A greve mais bonita da Unicamp
- Qual é a universidade que a gente quer?
- Poema: Não temeremos!
- Precisamos falar sobre esse papo de “grevistas são vagabundos”
- Os cortes no orçamento de 2017 na Unicamp/IA
Olá, Patricia!
Só quero fazer uma comentário ao seguinte trecho "Alguns cursos da Música já acabaram por falta de professor. É o caso do curso de cravo, que está com seus últimos alunos e depois que eles se formarem será extinto" […] Enquanto a Helena Jank estiver viva (a fundadora do curso de cravo na Unicamp) o curso não morrerá! Ainda não existe nenhum documento que prove a afirmação do seu texto. Até lá nós alunos do curso de cravo, junto com a Helena Jank estaremos lutando e fazendo nossa parte para que o curso não acabe! Manter-se bem informada antes de redigir um texto como esse é fundamental. Qualquer dúvida eu te passo o número da Helena Jank para você conversar diretamente com ela. Namastê.
Oi, Fernando! A informação de que o curso de cravo foi extinto foi passado para os estudantes pelo representante discente em 2016, durante as reuniões de curso. Eu não tenho motivos para duvidar da representação discente, então acreditei nele. Inclusive desde 2016 não consta mais a existência desse instrumento como opção para o bacharelado no manual do vestibular. Me parece estranho que um curso existe sem oferecer novas vagas há 3 anos.