Explicando um pouco sobre o corte de 40 milhões na Unicamp

Olá, pessoal. Nas últimas semanas os estudantes da Unicamp têm se mobilizado em reação à notícia chocante de que a Unicamp perdeu 40 milhões de verba, o que em repasse deve indicar que cada instituto perde 2% da sua verba.

40milhao
Peguei a foto da Cla, aquela linda

Na verdade a paralisação na última quarta-feira surgiu por iniciativa do Instituto de Artes; foi tirada em assembleia e levada para a assembleia geral dos estudantes, convocada pelo DCE. O DCE endossou a paralisação na quarta, adotando o polêmico trancaço (foi até matéria no G1) e o IA tirou em assembleia que continuaria paralisado na quinta e sexta. Mas paralisação não significa ficar parado, inclusive um professor disse que esse é um nome enganoso. Na paralisação nós ficamos mobilizados. Acontecem diversas atividades, conversas gerais e entre os cursos, com a presença de convidados… Enfim, parar as aulas serve não para que fiquemos em casa, mas para que possamos estar todos ali discutindo e nos manifestando.

Mas eu estava falando da assembleia do DCE. Estive nela durante 4 horas, depois precisei ir pra casa, mas fiquei até ser votado o mote, que basicamente luta por três causas:

  • Contra os cortes na educação
  • Contra o golpe do impeachment
  • Pelas cotas raciais (vale lembrar que a outra pauta da assembleia foram os ataques racistas na Unicamp)

Existem muitas pessoas que acham que lutar por tantas coisas ao mesmo tempo enfraquece e divide o movimento (por exemplo, quem é contra os cortes (não tem como ser a favor, né?!) mas a favor do impeachment já deixa de se unir à gente), outras opiniões acham que uma coisa está intrinsecamente ligada à outra e não dá pra separar. Eu não tenho opinião formada sobre o assunto ainda, isso vai ser mais discutido em assembleia na segunda-feira.

Mas vamos aos cortes. Não preciso nem dizer que 40 milhões é dinheiro pra caramba. A reitoria divulgou uma nota sobre as medidas de contenção detalhando tudo o que foi “contingenciado”. Então começando pelo que eu acho mais crítico como estudante: Na prática, os concursos estão congelados pois convocações de candidatos aprovados não acontecerá em 2016, só TALVEZ a partir de 2017, quando haverá uma reavaliação. Ou seja, se uma professora ou professor do seu curso sair, se aposentar, não vai entrar ninguém no lugar. Se tem alguma vaga livre, ninguém vai ocupá-la. O IA perdeu 9 vagas livres. (e tem mais por vir)

50% do valor aprovado para o Programa de Manutenção de Predial-PMP das Unidades de Ensino e Pesquisa e da Área de Saúde foi contingenciado também. Ou seja, duvido que haja dinheiro para consertar o auditório do Instituto de Artes, cujo piso empenou durante o alagamento de março. E os vários aparelhos de ar condicionado quebrados. E todo o resto que precisa e precisará de conserto ao longo do ano…

40% do valor destinado ao pagamento do serviço de impressão e cópias reprográficas foi contingenciado. Sabe a sua cota de impressão de 40 páginas que já não dá pra imprimir todas as partituras e textos que os professores passam? Eu chuto que vai diminuir. Sabe as aulas de Cálculo, Física e várias outras que recebem vários exercícios impressos? Acho que vão ter que diminuir também.

A área da saúde também está sofrendo cortes! Apesar de não ter encontrado essa informação (pode ter passado batida em algum tecniquês), vi pessoas comentando de que a cada 2 médica(o)s e 1 enfermeira(o) que se aposentarem apenas 1 será reposta(o).

Os cortes vão afetar diretamente os estudantes, sim. E eu penso que se ficarmos quietos, vão continuar cortando, tipo “ah, eles conseguem se virar com 40 milhões a menos, vamos cortar mais 30”. Agora é a hora de fazer barulho. É a hora de se manifestar por condições dignas para estudar. Ficar com 40 pessoas numa sala pequena sem ar condicionado e sem ventilação adequada não é digno, perder professor não é digno, o IA tem muitos professores de instrumento e se sai por exemplo o de violão, o curso de violão fica anos sem ter aula de instrumento.

Hoje nas atividades da paralisação nós fizemos um cortejo passando pelas ruas da Unicamp e por dentro de vários institutos com a bateria para chamar atenção pra situação, depois teve ato dentro e fora do restaurante universitário (bandejão) também. Isso não pode parar, a gente não pode desmobilizar.

Eu estou com um pé dentro e outro fora da Unicamp (último ano de graduação) (espero) mas acho importante continuar lutando pra que as gerações futuras tenham a oportunidade de estudar com condições melhores do que as minhas, não piores. Eu quero fazer mestrado e volta e meia aparece a discussão de que querem tornar a pós paga, aí eu não teria condições de fazer. A gente precisava pensar num jeito de dialogar com os estudantes da pós também, a luta tem que ser de todo mundo. Inclusive na mesa sobre os cortes na educação tivemos a presença de uma estudante que está engajada nas manifestações contra o roubo da merenda e nas ocupações das escolas de Campinas. Ela disse que a nossa luta é a dela e a dela é a nossa. E isso é muito verdade.

Bom, ficam aqui as informações que eu tenho e as minhas angústias com o que está acontecendo. Também tem vários posts falando sobre a luta interminável para que o Pibid continue, para quem se interessar.

Até a próxima.

bandejao
Saída do bandejão


2 Responses to Explicando um pouco sobre o corte de 40 milhões na Unicamp

  1. Estudo engenharia na Unicamp há 4 anos, NUNCA recebi recebi exercícios impressos, muito menos de física e cálculo, apenas as provas e olha lá…

  2. Curioso, porque eu cursei Ciência da Computação entre 2009 e 2011 e todas as aulas-monitorias de cálculo e física davam várias folhinhas de exercício. (por aula-monitoria me refiro à segunda aula da semana, voltada pra resolução de exercício, não à monitoria em que você procura o monitor) Talvez a política tenha mudado depois que eu saí.