Qual é a universidade que a gente quer?

Qual é a universidade que a gente quer? Quem é a gente? Quem são eles – aqueles que não estão com a gente – e por que eles não estão? Quando a greve começou eu não imaginava que haveria um antagonismo tão grande, que a mídia desse tanta cobertura e que organizações de fora da universidade ficariam tão preocupadas com o que fazemos.

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Foto: LAMARCA Fotografia no dia do ato Via Crúcis

Nós queremos uma universidade mais democrática e acessível, queremos que a universidade pública possa servir ao povo e não à elite. A greve não surgiu do nada, não ficamos “procurando um motivo para entrar em greve”, como as pessoas contrárias adoram dizer. Os motivos foram se acumulando. O IFCH implementou cotas étnico-raciais na pós-graduação e começou a sofrer ataques racistas. Então é claro que uma luta por cotas na graduação ia resultar em vários outros ataques. Por que a Unicamp não tem cotas? Por que a Usp não tem cotas? A discussão sobre as cotas não é recente, elas foram implementadas nas universidades federais em 2012 mas a discussão acontece desde 2004. Já tem pesquisas que mostram que o desempenho dos cotistas é igual ou superior ao dos não-cotistas. Por que ainda há essa resistência à implementação de cotas?

Os estudantes que fazem as intervenções em sala de aula e dialogam com os professores escutam coisas das mais absurdas. Eu achava que era muito óbvio que a universidade pública deveria ser, ahm, pública, mas não é essa a opinião de vários professores. O coordenador da Comvest (comissão de vestibular) defende que a Unicamp deveria cobrar mensalidade. Tem professora de licenciatura que diz que a pós-graduação deveria ser paga e defende a meritocracia. Tem professor que disse que não quer pobre na Unicamp. Tem professor que disse que aluno de engenharia deveria (só) fazer conta, não ficar pensando em política. Tem professores sendo processados por racismo e agressão. E muitos, muitos mesmo concordam que “professor não é educador”. É um show de horrores. Não é à toa que alguns professores mais simpáticos ao nosso movimento se juntaram para relançar o manifesto “SOS Universidade Pública“. SOS mesmo. É todo dia um SOS Unicamp diferente. E o dia em que veio uma galera se manifestar pedindo intervenção militar já??? SOS. Socorro.

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Teve o corte de 40 milhões no orçamento. Eu não consigo nem conceber 1 milhão, é muito dinheiro, imagina 40. Vários institutos foram afetados. E a moradia tá superlotada e a permanência tá sendo negada. O Hospital Central foi afetado. Nossa luta não é só pela educação, é pela saúde pública também. A nossa luta é todo dia, porque saúde não é mercadoria. Se você paga, não deveria, porque saúde não é mercadoria. Já tem muito material faltando no HC. Os pacientes entendem a nossa luta. Isso ficou evidente na aula pública no centro de Campinas sobre o SUS, que terminou com a fala de uma paciente dizendo que o CAISM é o melhor hospital, que lá ela se sente tratada feito gente. (o superintendente do CAISM, hospital da mulher, fez uma homenagem ao Bolsonaro. SOS.) Essa aula pública foi fantástica porque a gente saiu da Unicamp. Tivemos falas de ex-presidiário, morador de rua, um público que não atingimos na nossa bolha universitária…

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Quem luta pela educação não merece punição. Quem luta por cotas não merece punição. Quem luta por saúde não merece punição. Convocaram uma assembleia da Adunicamp para pedir que os estudantes grevistas sejam punidos e que a comissão de mobilização docente, criada por alguns professores no acordo de desocupação da reitoria para acompanhar as sindicâncias, seja desmantelada. Tem docentes pedindo PM no campus para acabar com os piquetes. Os professores também estão em um antagonismo tremendo. É um retrocesso muito grande, como disse o professor Caio de Toledo em sua carta aberta aos docentes antigrevistas. Felizmente todas as reivindicações foram barradas por votação,

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É todo dia um SOS Unicamp diferente. É todo dia uma nova decepção. A única coisa que mantém minha esperança num futuro melhor é ver as pessoas que estão dispostas a lutar por ele. Juntas. Só a luta muda a vida, então vamos fazendo. Embarca na luta, embarca, são as cotas que nós queremos. Embarca na luta, embarca…


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