(O post está atrasadíssimo mas acho que nunca é tarde pra registrar, né?) Mês passado, no dia 15 de setembro, aconteceu um caso de homofobia por parte de um funcionário do Colégio Técnico de Campinas (Cotuca) e da orientadora do Serviço de Orientação Educacional (SOE). O funcionário encaminhou dois estudantes ao SOE por considerar que eles estavam demonstrando afeto de forma exagerada. De acordo com outros estudantes, havia casais heterossexuais se comportando de forma semelhante mas apenas o casal homossexual foi repreendido. A orientadora disse que entraria em contato com as famílias dos estudantes para relatar o que aconteceu. Esse caso causou uma grande comoção entre estudantes do Cotuca, pois o casal não é assumido e é do entendimento de todas e todos que o Colégio não deveria contar para suas famílias, pois assumir sua orientação sexual é uma decisão particular que não deve ser tomada por terceiros.
No mesmo dia começou uma mobilização nas redes sociais para chamar a atenção não apenas para casos de homofobia no Cotuca, mas também para outras formas de discriminação e problemas de saúde mental ocasionados pela cobrança excessiva de um bom desempenho nos estudos. Foi criada a página “Por um Cotuca melhor” no Facebook e diversas/os estudantes colocaram em seu avatar a faixa “Eu luto pelo fim de um Cotuca homofóbico”. No dia seguinte aconteceu um debate no intervalo da manhã, com a presença de docentes e funcionárias/os, que se estendeu e paralisou a aula seguinte. Diante das manifestações, o SOE voltou atrás na decisão de contatar as famílias do casal e a direção diz que está sempre aberta ao diálogo, embora a afirmação da diretora Teresa Helena seja questionável por dar a entender que casais homossexuais devem esconder seu afeto: “Quem faz as coisas sem privacidade, publicita sua vida. Está público, então a gente pode até não falar nada, mas não pode impedir que um amigo não comente algo. A gente perde o controle quando a situação é pública”.
É muito importante esse questionamento da postura do Colégio no que se refere à pressão acadêmica. Me formei no técnico em Informática no Cotuca, sou da turma de 2004. Na época eu não questionava a cobrança, apenas aceitava e achava que era normal, pois acreditei no discurso de “você está em um dos melhores colégios do país, precisa se esforçar”. Deixei de almoçar várias vezes para passar o intervalo do almoço programando nos laboratórios, senão não teria tempo de terminar meus trabalhos. Era difícil encontrar tempo para se dedicar às matérias do ensino médio, pois a prioridade deveria ser o técnico. Inclusive a estrutura do curso já deixava isso evidente: por estar em um colégio técnico, as disciplinas de ciências sociais são vistas como menos importantes e temos História e Geografia em dois dos três anos do ensino médio. Arte em apenas um ano. Agora há Filosofia e Sociologia, quando eu passei pelo cotuca não havia; tive apenas um ano de Ética e cidadania. Considero que o conteúdo perdido dessas disciplinas fez uma falta muito grande na minha formação.
A cobrança por causa do vestibular é outra questão. Há uma pressão muito grande para que as/os estudantes passem nos vestibulares de universidades públicas, preferencialmente a Unicamp. Na minha época – e os relatos na página Por um Cotuca melhor me levam a crer que continua da mesma forma – professoras/es ridicularizavam frequentemente pessoas que estudam em universidades particulares, como se tivessem menos competência e capacidade. Toda essa cobrança excessiva acaba fazendo com que muitas pessoas do Cotuca entrem em depressão. Por não ter tempo nem para refletir, muitas acabam acreditando que isso é normal, que o problema está em quem não consegue se encaixar nessa realidade e posteriormente levam essa visão para a universidade, garantindo a manutenção desse pensamento meritocrático. Por isso é tão importante a luta pelo fim da homofobia no colégio e pela conscientização de que muitas das cobranças não são normais, como foi feito em várias universidades no semestre anterior.
Links:
Por um Cotuca melhor
Conexão Cotuca: 16/09 – o dia em que o Cotuca parou para discutir a homofobia
fotinho da minha época de Cotuca, haha