Desde ano passado existe um grande movimento que pede o retorno das aulas presenciais na educação básica. Mas não existe meios de fazer esse retorno com a pandemia descontrolada. A culpa não é de professoras e professores, é do governo (principalmente o federal) que não fez esforços para diminuir os números de contágio e de mortes, muito pelo contrário. Vou colocar aqui alguns dos argumentos a favor das aulas presenciais.
“Professores não querem voltar a trabalhar!”
Professores não pararam de trabalhar. As aulas estão acontecendo de forma remota, de muitos jeitos diferentes – síncronas, assíncronas, com entrega de atividades etc. E eu gostaria MUITO de voltar para a sala de aula, tenho certeza que todos os professores também. Esse ensino remoto é horrível. Mas não vamos fazer isso sem segurança. (a não ser aquela professora de canto que gravou um vídeo pedindo o direito de trabalhar até morrer)
“Está sendo muito difícil para os alunos, ninguém está aprendendo nada”
Sim, está sendo muito difícil mesmo. Para alunos, familiares e professores. Nós estamos trabalhando muito mais de forma remota do que trabalhávamos presencialmente. Tem mais trabalho para a elaboração das aulas e atividades, adaptações necessárias, um contato mais individualizado, intermináveis relatórios. Não é o ideal, está longe de ser ideal, a educação brasileira vai sofrer as consequências desses períodos pelos anos que virão. Mas é isso ou aumentar as mortes. Eu não quero lamentar a morte de colegas e alunos.
“As crianças precisam da escola para comer”
Todas as prefeituras que conheço estão fazendo distribuição de cesta básica para substituir a merenda. Óbvio que existem muitas famílias em situação de insegurança alimentar e que talvez uma cesta básica não seja suficiente, mas era necessário também ter o auxílio emergencial para isso.
“Muitas crianças não têm acesso à tecnologia para acompanhar as aulas”
Sim, eu dou aula em escola rural. A desigualdade é gritante. Ela sempre existiu. E por isso mesmo as famílias das crianças que menos têm condições tecnológicas são aquelas que mais têm riscos de morrer por Covid.
“Os outros profissionais também estão morrendo”
Não é uma competição de quem morre mais. Na verdade era pra parar de ter mortes.
“Mas os professores estão sendo vacinados”
Sim, mas os governos estão pressionando para a retomada das aulas antes da vacinação estar completa. Lembrando que ela está acontecendo a passos lentos e são necessárias duas doses.
“Crianças não ficam doentes”
Mas transmitem o vírus. Além disso, temos variantes que estão aumentando a transmissão da Covid em crianças e jovens. Estudos indicam que a Covid já matou entre 1300 e 2000 crianças menores de 9 anos no Brasil (ainda sofremos com a falta de testes). E quando as escolas reabrem, a circulação de pessoas aumenta pois familiares ou transporte escolar precisa levar as crianças, além de outros profissionais da educação.
“É um absurdo escola fechada e bar aberto”
É um absurdo mesmo. Não era pro bar estar aberto.
“Não dá pra fazer lockdown pra sempre”
Mas nós não fizemos lockdown. Excetuando algumas cidades, como Araraquara, o que aconteceu foi uma quarentena meia boca, com diversas flexibilizações e as mais variadas cores para classificar a situação das cidades. Era necessário fazer um lockdown rigoroso para conter o vírus, mas sem garantir a sobrevivência das pessoas com auxílio emergencial, não tem como. Com a desinformação e fake news incentivadas pelo governo, não tem como.
“Professor só quer ficar em casa porque tá com o salário garantido”
Nem todos, a rede privada não tem essa garantia. Muitos professores foram demitidos para cortar gastos. A rede pública oferece uma estabilidade que, francamente, é o mínimo. É por isso que nós lutamos por direitos trabalhistas para todos.
Deixo aqui alguns links além dos que estão espalhados pelo post:
- Uma live muito interessante do SINPRO Guarulhos sobre o movimento Escolas Abertas
- Post sobre como está sendo minha experiência com as aulas remotas
- Site da APEOESP com os casos de contaminação por Covid na rede estadual de ensino
- Texto da Carta Capital sobre a relação entre a reabertura das escolas e o aumento nos casos de Covid