Nota sobre a consulta para reitor da Unicamp

Escrevi um texto logo após o resultado do primeiro turno da consulta pra reitor da Unicamp e decidi aprofundar um pouco mais e postar aqui no blog para ficar guardado.

A grande maioria das entidades estudantis chamou voto nulo com um discurso de que nenhuma das chapas atendia aos interesses estudantis. O que tivemos de votos de estudante foi o seguinte:

Nulos: 202
Tom Zé: 1.367
Saad: 610
Salles: 1.086

 

Ou seja, chamar voto nulo é o mesmo que falar pras pessoas não votarem. Se é pra votar nulo, pra quê a pessoa vai se dar ao trabalho de entrar no site e votar? Se as entidades ficaram um mês falando que voto de estudante não faz diferença, que todas as chapas são iguais, pra quê a pessoa vai querer acompanhar? Não importa, né?
SÓ QUE FAZ DIFERENÇA, SIM. O segundo lugar na votação foi decidido por uma conta em casas decimais. E como lembrou o prof. André Pasti nos comentários do meu post, a fórmula de cálculo leva em conta o número total de votantes, então se abster de votar ainda enfraquece o peso do voto de quem participou.

Eu acho que o voto nulo como protesto é um posicionamento válido, não estou falando aqui de posicionamento individual. O que avalio é que todo o discurso das entidades contribuiu para a despolitização e falta de participação de estudantes. E isso é prejudicial para o movimento estudantil.

Agora, falando sobre alguns dos argumentos frequentes:

“Nenhuma chapa prioriza estudantes”

Sim, é verdade. Nós sabemos que a categoria docente prioriza seus próprios interesses sempre. Mas deixar de participar do processo de consulta não vai fazer essa situação mudar. A correlação de forças só vai melhorar para o nosso lado quando estudantes votarem em peso. Quando os votos de estudantes chegarem perto de decidir uma eleição, aposto que docentes vão começar a olhar com mais atenção para nossas demandas.

“Ao invés de votar nessa consulta a gente deveria lutar por paridade nos conselhos”

De novo, correlação de forças. E uma coisa não impede a outra.

“Todas as chapas são iguais”

Não, não são. Leia os programas, assista aos debates, faça perguntas em reuniões. Ou acredite nas pessoas que fizeram isso. Tem diferenças, sim. No programa, na postura.

“Não adianta nada essa consulta, o governador que vai escolher”

Então a gente devia parar de fazer consulta e só deixar o governador ou o presidente escolherem os reitores das universidades estaduais e federais? O Dória não deu nenhum indicativo de que desrespeitaria a decisão da comunidade. Além disso, a autonomia universitária das paulistas pesa muito. Sem falar que, com intenções presidenciáveis, ele não se prestaria a esse desgaste político.

“As pessoas estão mais preocupadas com essa consulta do que com a pandemia”

???????????????????????????????????????????????? Tenho nem resposta pra isso, bicho. É o mesmo que falar “as pessoas estão mais preocupadas com o BBB do que com a pandemia”. Se você não se importa, beleza, não acho que todos os argumentos do mundo podem fazer você entender as razões para se preocupar com quem vai ser reitor. Mas se orgulhar disso e atacar quem se preocupa, olha… tá puxado.

Enfim, na representação discente eu ouvi incontáveis vezes professor falar que “estudantes não se importam” e, acreditem, isso atrapalha real quando a gente tenta conquistar as coisas. Não existe isso de se preocupar com a consulta pra reitor x mobilizar nas pautas do dia a dia. Porque quem tá acompanhando a consulta pra reitor são as pessoas que estão tocando as pautas do dia a dia. Pode ter um ou outro estudante que tá fazendo campanha pro seu orientador e nunca deu bola pra nenhuma outra mobilização? Até pode, mas garanto que é uma minoria.

E quem tá acompanhando, agora falando pelas pessoas que compõem a APG e o GT de Cotas na Pós, não estão só olhando. Estão levando demandas, discutindo e pressionando os candidatos, para depois ter mais respaldo para cobrar o que prometeram. E vamos cobrar. E continuar nas pautas cotidianas. Inclusive tem um novo GT de Políticas para Mulheres.

Bjo bjo.


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