UPP – A redução da favela a três letras: a dissertação de Marielle Franco

14/03/2019. Completou na última quinta-feira um ano do assassinato de Marielle. Neste ano muita coisa aconteceu; muitos motivos para a falta de esperança, mas ao mesmo tempo pequenas sementes de esperança foram brotando.

Nesse dia aconteceu na Unicamp uma roda de conversa para nomeação do auditório II do IFCH como auditório Marielle Franco e o lançamento do livro UPP: A Redução da Favela a Três Letras – Uma Análise da Política de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro, uma publicação da dissertação de mestrado de Marielle. Essa atividade teve a presença de Erika Hilton (Co-Deputada Estadual pela Bancada Ativista-PSOL), Mariana Conti (Vereadora do PSOL na cidade de Campinas), Cristiane Anizeti (Ativista do Movimento Negro de Campinas) e Yara Adario Frateschi (Departamento de Filosofia do IFCH).

A profa. Yara contou um pouco sobre a história de Marielle e falou sobre o livro. Marielle se graduou na PUC, onde conheceu e conviveu com pessoas que romantizavam ou estereotipavam a favela. Foi então que percebeu a importância de ser sujeito e não objeto de pesquisa. Na academia as pessoas teorizam sobre a periferia sem ter essa vivência – e é por isso que é tão importante o acesso à universidade, para que essas pessoas possam levar suas vivências para a academia, aumentando a pluralidade. Ela também disse editores deixaram de fora do livro o primeiro capítulo da dissertação (“Do liberalismo ao atual estado penal: reflexões teóricas”), que ela recomenda muito a leitura.

É possível ler a dissertação na íntegra e gratuitamente no site da UFF. Quanto ao livro, o dinheiro obtido com a venda será destinado à família de Marielle.

Links::

Dissertação no site da UFF
Sobre o livro no site da editora

Resumo da dissertação:

O objetivo desta dissertação é demonstrar que as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), enquanto política de segurança pública adotada no estado do Rio de Janeiro, reforçam o modelo de Estado Penal. Para tal é necessário apresentar um estudo sobre o significado das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) pela perspectiva da Segurança Pública e fundamentado nos elementos da Administração Pública. Trata-se de averiguar quais as relações contidas nestas Unidades, intrínsecas ao processo de elaboração e consolidação de políticas na área de segurança pública. Nesse sentido, haverá um esforço de identificar se as Unidades de Polícia Pacificadoras representam uma alteração nas políticas de segurança ou se estas se confirmam como maquiagem dessas políticas. Busca-se analisar, em perspectiva teórica ampla, se o modelo neoliberal no Brasil incorpora os elementos de um Estado Penal, considerando o processo de formulação e de implementação das UPPs nas favelas do Rio de Janeiro, no período de 2008 a 2013, peça chave para a compreensão deste fenômeno. Considerando a Favela da Maré como um dos elementos que corroboram para esta análise, uma vez que estes são caracterizados por elementos que sintetizam o modelo teórico proposto por Loïc Wacquant (2002), a saber, o processo de penalização ampliado, que colabora sobremaneira para a consolidação do Estado Penal, parte-se do pressuposto de que o modelo de análise proposto por esse autor, se aplicado ao caso proposto e guardadas as peculiaridades de cada contexto histórico-político, permite identificar um Estado Penal que, pelo discurso da “insegurança social”, aplica uma política voltada para repressão e controle dos pobres. A marca mais emblemática deste quadro é o cerco militarista nas favelas e o processo crescente de encarceramento, no seu sentido mais amplo. As UPPs tornam-se uma política que fortalece o Estado Penal com o objetivo de conter os insatisfeitos ou “excluídos” do processo, formados por uma quantidade significativa de pobres, cada vez mais colocados nos guetos das cidades e nas prisões.


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