Aqui neste post vou falar um pouco sobre como está sendo dar aulas em uma escola rural numa cidade do interior paulista nessa pandemia. Sou professora de Artes e Música em Piracaia (o município coloca a Música como disciplina separada, sonho de toda pessoa que cursa a licenciatura).
A maioria dos meus alunos não tem computador nem wi-fi em casa, nem crédito pra usar 3g. Aula remota como, então???? Pelo whatsapp, que é grátis no pacote da operadora. Ou seja, não dá pra mandar vídeo do Youtube, por exemplo, tem que enviar direto no zapzaperson. E isso quando o sinal pega, porque às vezes a região fica uns dias sem sinal.
Então eu estou enviando as atividades por zap e fazendo atendimento particular pra tirar dúvidas, corrigir e registrar a participação. É bem complicado, tem gente que acha que as professoras não estão trabalhando porque as escolas estão fechadas, mas na verdade a gente tá trabalhando muito mais. Não existe mais horário de aula – e isso não é culpa das alunas e alunos. Muitos dividem o celular com a mãe ou pai, que precisam trabalhar e levam, então só conseguem fazer as atividades à noite ou no final de semana. Então a gente acaba respondendo fora do expediente, não tem como. Levei um tempo também para me acostumar com a quantidade de planejamentos e relatórios pedidos (a outra escola onde eu dava aula, por exemplo, pedia um relatório de todas as interações com estudantes e familiares).
Isso que eu ainda nem falei da pior parte, que é a perda que as disciplinas de Artes e Música sofrem com o ensino remoto individual. Eu sempre procurava fazer atividades em grupo, com dinâmicas, instrumentos etc. No fim do ano passado eu sentia que já tinha esgotado completamente a minha criatividade pra fazer atividades hahahaha. Eu tentei fazer muitas atividades de interpretação de letras, imagens, composição com objetos, criação de monólogos e dialógos, mandei uns vídeos de just dance também…
Este ano está um pouquinho melhor, minha criatividade está renovada depois de um período de férias e vou tentar também juntar mais as atividades da turma para mostrar como ficaram e dar uma continuidade maior de uma semana para a outra. São coisas que eu queria ter feito no ano passado, mas não dei conta. Também tenho notado uma maior participação de alunas e alunos que desapareceram no ano passado, isso me deixa muito feliz.
Felizmente o prefeito da cidade manteve a suspensão das aulas presenciais, ao contrário de muitos outros governos que forçaram a reabertura das escolas – uma completa irresponsabilidade. A APEOESP decretou greve sanitária – ou seja, greve para não ir à escola e trabalhar remotamente. Tenho acompanhado as assembleias (sou associada). Algumas pessoas estão chamando o sindicato de pelego porque queriam greve total, assembleia presencial, atos de rua. Entendo que é muito frustrante ficar em casa, logo vai dar um ano de quarentena, mas me parece uma contradição fazer assembleia presencial contra o retorno presencial às escolas. Estaríamos passando mensagens opostas para a população. Eu só queria que isso tudo acabasse logo, que a vacinação caminhasse sem percalços, que governantes suspendessem as atividades presenciais antes que mais professoras/es, funcionárias/os, estudantes e familiares se contaminem e possivelmente venham a falecer. As notícias das sequelas em crianças também são assustadoras.
Enfim. Ano passado eu enviei meu relato para o Diário de Classe da Pandemia, iniciativa do Projeto de Extensão em Educação Política da Unicamp e ele resultou na tirinha que está na abertura do post. Clique aqui para ver o meu relato na época. (o Diário de Classe vai virar livro também! ♥)
Até o próximo post!