“Eles roubaram a dádiva que o tornava homem para dar-lhe a voz que o tornou um deus.”
Já faz um tempinho que vi este filme, com meu namorado. Caras, não reclamem se suas namoradas arrastarem vocês para ver comédia romântica. Podia ser pior, elas podiam fazer vocês verem filmes sobre cantores castrados! :’D (ou não, depende do ponto de vista. Eu particularmente não sou fã de comédias românticas)
quase uma Lady Gaga
Castrati (plural de castrato) são cantores homens que foram castrados antes de atingir a puberdade. Sabe como o timbre da voz masculina muda muito por causa dos hormônios? Essa castração impedia isso de acontecer, deixando os castrati com vozes muito agudas. Não é igual o timbre das sopranos. Eles são lendas da música; dizem que seu canto era a coisa mais fantástica do mundo, a ponto de fazer mulheres chorarem e desmaiarem!
A prática da castração era comum no século 16 (período barroco) e diminuiu no século 18 até tornar-se ilegal em 1870. Existe uma gravação do último castrato vivo, Alessandro Moreschi (1850-1922). Mas não dá pra ter uma boa ideia porque ele já estava bem velho, a tecnologia de gravação era rudimentar e eu imagino que na época dele os castrati já estavam em “desuso”, por isso ele não deve ter passado por tantos estudos quanto os da “época de ouro” – sendo o melhor exemplo dessa época o Farinelli.
Ok, agora que deu pra ter uma ideia do que são esses castrados (depois vou fazer um post mais técnico), vou falar sobre o Farinelli e o filme em si.
O nome verdade do Farinelli era Carlos Broschi. Não se sabe de onde surgiu o nome artístico Farinelli; o filme faz uma explicação com “farinha” mas eu não entendi direito. Ele tinha um irmão compositor, Riccardo, e eram conhecidos como “os irmãos Broschi”. Riccardo, entretanto, não era um compositor de muito sucesso e dependia da fantástica voz de seu irmão para ter algum reconhecimento. Não era apenas do sucesso do irmão que ele tirava uma casquinha. Tirem as crianças da sala! Lembram que eu disse que os castrati deixavam as mulheres loucas? Então… eu nunca imaginei que veria cenas de sexo num filme sobre um cara castrado. o_o E o irmão dele aparentemente não conseguia pegar ninguém sozinho e ia lá “terminar o serviço”, se vocês entendem o que eu quero dizer.
A parceria entre os irmãos ia bem, até que Handel, sim, aquele compositor extremamente famoso, se interessa pela voz de Farinelli. O jovem, entretanto, diz que aceitará apenas se seu irmão compositor o acompanhar. Handel não aceita isso muito bem e surge o dilema na cabeça do castrado. Aliás, ele chega a cuspir em Handel; quem disse que ele não tem bolas?!
Outro mistério que atormenta Carlos são as circunstâncias em torno de sua castração. Ele não queria ser um castrato, mas supostamente teve que sofrer o procedimento para salvar sua vida quando caiu de um cavalo.
O filme, de 1994, é muito interessante. É claro que todo o destaque vai para as apresentações do cantor. Para simular a voz de um castrato, foram mixadas as vozes de uma soprano e de um contratenor. As cenas são belíssimas, com muita pompa – castrati eram os rockstars da época. A história, como toda adaptação pra filme, é bastante romantizada e tem muitas licenças poéticas que não necessariamente correspondem à realidade. Mas é preciso admirar um filme que coloca Handel no papel de vilão!
“Você tem tão pouca consideração pela música… que você vai desperdiçar sua voz cantando lixos? Sem música, você não existe. Você é só uma criatura sem bolas. Nem homem, nem mulher. Sua voz é a única justificativa para sua existência.” – Handel
Recomendo muito o filme, vale a pena assisti-lo! Agora quero ver o filme sobre Lully…
Detalhes do filme no Filmow
Detalhes do filme no IMDB
Quadro mais próximo da realidade (?), feito por Corrado Giaquinto
O nome Farinelli vem de farinha. A farinha e o grão de trigo pulverizado, e é isso (pulverizar, demolir) que ele fez com o trombetista.