A nossa luta é todo dia. A escadaria pintada da Faculdade de Educação me inspira cada vez que subo os degraus. Mas não é uma luta fácil. É uma luta que dói. Muito.
Dói quando uma adolescente é estuprada por mais de 30 homens. Dói quando a gente vê comentários culpando a vítima. Dói quando homens ficam mais ofendidos quando falamos que todo homem é um estuprador em potencial do que quando mulheres são estupradas. Outro dia eu postei uma ameaça de estupro pichada num banheiro da Unicamp e um homem ao invés de se chocar com a ameaça veio questionar se eu concordava com a afirmação em resposta e me bloqueou em seguida.
Dói quando os políticos querem retirar o DIREITO ao nome social das(os) trans. #NomeSocialÉDireito Dói quando proibem a ideologia de gênero nas escolas. Dói quando proibem os professores de emitirem opinião em sala de aula. Dói quando as pessoas insistem em falar homossexualismo ao invés de homossexualidade, insistem em chamar trans com o gênero ou nome errado (chamar mulheres trans de “ele” etc), insistem em falar que trans são trap, que é uma cilada, Bino (trans não existem para enganar os homens!!!!!!!!!).
Dói quando eu pago pra fazer um curso e o professor faz piada com violência doméstica, dizendo que a articulação do pulso é importante pra tocar piano, pra tocar percussão, pra dar um tapa na mulher dele, além de ter um discurso pedagógico completamente elitista e retrógrado. Dói quando minha professora da licenciatura insiste em trazê-lo pra dar curso de novo. Dói quando ela tenta me desacreditar falando que foi a “minha percepção dos fatos” e “um equívoco”. Machismo não é equívoco, não é percepção pessoal.
Dói quando eu vejo pichações racistas na Unicamp. Dói quando eu percebo que tem pouquíssimas(os) negras(os) na universidade. Dói descobrir que Campinas foi a última cidade a abolir a escravidão e ver que a Unicamp se recusa a implementar as cotas raciais.
Tem uns dias em que dói só de estar viva nesse mundo. Em que parece que eu sou pequena demais diante de tanta merda acontecendo. Mas é que nem uma mana falou num dos muitos posts que eu vi sobre o estupro: a gente chora, a gente sofre. Mas depois a gente levanta e volta a lutar. Porque juntas somos grandes.
E a nossa luta é todo dia.
Dói…não tenho palavras, só sinto…dor..