Olá! Um dos livros que estou lendo agora é O Ouvido Pensante, de Murray Schafer. Há nele um capítulo sobre limpeza de ouvidos e eu queria fazer aqui uma reflexão sobre o silêncio.
Experimente fazer um teste. Desligue aí a música que você talvez esteja ouvindo e concentre-se no silêncio. Ele existe mesmo?
Os exercícios propostos por Schafer na limpeza de ouvidos são justamente para que nós comecemos a perceber sons tão comuns que já não mais notamos. O vento fazendo as árvores balançarem. Um carro passando ao longe. Alguém escrevendo em um papel – ou digitando no computador. Passos. Se você estivesse conversando com uma pessoa e eu pedisse pra você anotar todos os sons que ouve, você certamente anotaria a voz da outra pessoa. Mas você anotaria sua própria voz?
Será que há um lugar em que estamos livres de qualquer som? John Cage, o compositor da famigerada 4’33”, experimentou entrar em uma câmara anecoica, uma câmara totalmente à prova de sons. Mesmo neste local, ele conseguia ouvir dois sons: um agudo e um grave. Depois ele descobriu que o som agudo é produzido por seu sistema nervoso, e o grave é produzido pela circulação do sangue nas veias. Ou seja, nosso próprio organismo emite sons.
No livro de Schafer, há um poema bem legal que eu gostaria de compartilhar com vocês. Foi escrito por um dos alunos dele, mas não há o nome do autor.
SOM POEMA
Se existe silêncio e som –
Silêncio sem silêncio é som
Silêncio cheio de som é som
Som sem som é silêncio
Som cheio de som é som
Som cheio de silêncio é silêncio
Silêncio cheio de silêncio é silêncio
Silêncio sem som é som
Som cheio de silêncio é silêncioSe não existe o silêncio –
Silêncio sem silêncio é som
Silêncio cheio de som é som
Som sem som é som
Som sem silêncio é som
Silêncio sem som é som
Som cheio de som é som
Som cheio de silêncio é som
Silêncio cheio de silêncio é som
Silêncio sem som é som
Som cheio de silêncio é som
E aí, qual a opinião de vocês sobre o silêncio?
Swallowed up in the sound of my screaming, cannot cease for the fear of silent nights.
– Imaginary, Evanescence
(Devorado pelo som dos meus gritos, não consigo cessar o medo das noites silenciosas.)Stranger now are his eyes to this mistery; he hears the silence so loud!
– For whom the bell tolls, Metallica
(Estranhos agora são seus olhos diante deste mistério; ele ouve o silêncio tão alto!)
Eu concordo com o autor do seu livro em partes. Acho que o silêncio é raro, algo muito difícil de se encontrar e tecnicamente falando, impossível. Mas, somos tão destraídos que conseguimos o silêncio. Quando deixamos de pensar nos sons, eles deixam de existir (pelo menos para gente).
Pensar no silêncio faz com que ele deixe de existir, não é estranho?
Abraços, Patty.
Achei bem pertinente o texto. Eu aprecio muito o silêncio, bem como caminhadas. Não há exercício de relaxamento melhor para a mente do que essas duas coisas juntas.
Vivemos num mundo onde muita gente não quer desligar a "trilha sonora da vida" em seus IPods. Com tanto input sonoro que a mente recebe, será que essas pessoas sentem prazer em pensar?
Ouvir música o tempo todo parece uma tentativa de abafar a voz da nossa alma. Quem ouve música sem parar talvez nunca conversou consigo mesmo. Com isso, nunca concluiu um raciocínio genuinamente.
Essa é uma boa reflexão. Justamente, boa parte das pessoas que eu conheço costumam caminhar acompanhadas por um ipod: seja ouvindo música ou podcasts. O que me faz pensar que com todos esses gadgets minúsculos que podem fazer tanta coisa, cada vez mais as pessoas estão conectadas, fazendo um monte de atividades enquanto estão se exercitando, ou numa fila, ou mesmo acompanhadas por outras pessoas. Cada vez menos as pessoas passam um tempo refletindo ou conversando consigo mesmas, como você disse. Isso é uma pena.
Obrigada pelo comentário!